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Principais conclusões

  • O avanço explosivo da inteligência artificial (IA) e dos data centers estão gerando uma demanda sem precedentes por eletricidade e gás, levando as concessionárias a investir de forma significativa em redes inteligentes, confiabilidade e eficiência.
  • Ventos estruturais favoráveis, como a descarbonização, as modernizações das redes e o reforço para resiliência climática, estão impulsionando ciclos de investimento de capital de longo prazo.
  • Ativos de serviços essenciais, como as concessionárias de energia, são resilientes à volatilidade econômica, com a estabilidade dos resultados sustentada por contratos de longo prazo e por estruturas regulatórias. Mesmo em ambientes macroeconômicos incertos, o setor de infraestrutura se destaca por suas características defensivas e por retornos consistentes.

A infraestrutura listada registrou retornos sólidos em 2025, favorecida pela demanda por energia impulsionada pela IA nas concessionárias de eletricidade e na infraestrutura de gás. Nos reunimos com os gestores de portfólio da ClearBridge, Charles Hamieh, Shane Hurst e Nick Langley, para discutir como o crescimento da IA e outros fatores que influenciam os retornos de infraestrutura, como capex (investimentos em capital) para substituir instalações e equipamentos antigos, investimentos em resiliência, onshoring e a política fiscal e monetária global, estão posicionando a classe de ativos para 2026 e os anos seguintes.

Qual é a sua perspectiva geral para o setor de infraestrutura em 2026?

Nick Langley: A infraestrutura vem se beneficiando de ventos estruturais favoráveis, como a descarbonização, os investimentos em redes envelhecidas para reforçar a resiliência e o crescimento da IA e dos data centers, que estão impulsionando a demanda por energia. Acreditamos que todos esses fatores continuarão atuando em 2026 e nos anos seguintes, e não vemos esses elementos plenamente refletidos nos mercados. Portanto, os valuations da infraestrutura nos parecem atrativos, especialmente considerando a duração e a transparência de seus ciclos de gastos e retornos (Gráfico 1). A maior parte da nossa exposição está nos Estados Unidos, onde as concessionárias estão registrando um crescimento regulado de resultados sem precedentes, impulsionado pela expansão de suas bases de ativos em função desse volume extraordinário de investimentos em capital. O resultado é que as concessionárias têm negociado na extremidade inferior de sua faixa de EV/EBITDA na última década, ao mesmo tempo em que registram um crescimento de resultados significativamente maior. Além disso, o ambiente fiscal tem sido favorável, especialmente nos Estados Unidos e na Europa, e a política monetária global está, de modo geral, em uma trajetória que vai da neutralidade ao afrouxamento. Portanto, acreditamos que o setor de infraestrutura deve continuar atrativo em 2026.

Vocês esperam que o impulso gerado pela IA continue favorecendo o setor de infraestrutura?

Shane Hurst: A necessidade de suprir a IA, e o crescimento de dados e a capacidade computacional que ela exige, levou a uma demanda explosiva por energia elétrica e gás. As concessionárias de eletricidade e gás estão investindo fortemente na construção de redes inteligentes, com melhor capacidade de resposta à demanda e maior confiabilidade e eficiência. As concessionárias também têm se beneficiado de forma significativa; elas estão alocando volumes elevados de capex no desenvolvimento e na operação contínua de data centers. O capex do setor de tecnologia para novos data centers deve totalizar US$ 6,78 trilhões até 2030.1 De acordo com diversas estimativas, o cenário-base para o crescimento da demanda global de energia por data centers é de 22% ao ano, em base composta, até 2030, enquanto os investimentos na construção de data centers devem alcançar US$ 49 bilhões por ano até 2030 (Gráfico 2). De acordo com a International Energy Agency (IEA), nos Estados Unidos os data centers estão no caminho de responder por quase metade do crescimento da demanda de eletricidade até 2030, impulsionados, em grande parte, pelo uso de IA.

Gráfico 1: EV/EBITDA de consenso do setor de infraestrutura listada

Fonte: FactSet, ClearBridge Investments. Dados de 30 de setembro de 2025. Tendência histórica utilizando o EBITDA do exercício fiscal 1 O desempenho passado não é indicador ou garantia de resultados futuros.

Gráfico 2: Demanda global de energia por data centers impulsionando investimentos

Fontes: Internal Research, McKinsey, IEA, Morgan Stanley, WFG, BNEF, EIA. Dados de 30 de setembro de 2025. Investimento refere-se apenas à construção e não inclui equipamentos. Não há garantia de que qualquer estimativa, previsão ou projeção será realizada.

Quais são alguns dos riscos associados a essa aceleração da IA que vocês estão monitorando?

Charles Hamieh: Os hyperscalers, em geral, firmaram contratos de 15 a 20 anos nos quais a concessionária fornece a infraestrutura (incluindo energia) e obtém um retorno atrativo sobre o seu capital próprio, normalmente na faixa de 9% a 12%. Para os projetos existentes, a concessionária está 100% protegida e receberá um retorno sobre o seu investimento. Isso também significa que as revisões positivas das projeções atuais são estruturais e têm visibilidade para um horizonte de 7 a 10 anos.

Os riscos que estamos monitorando incluem a pressão sobre as contas dos consumidores residenciais devido ao aumento dos preços de energia, o que pode se tornar um tema político e gerar preocupação de que o crescimento dos data centers seja prejudicial para os clientes das concessionárias em geral. Além disso, há as limitações das redes de eletricidade, manifestadas em atrasos em acordos de interconexão, usinas e aprovações. Atrasos na cadeia de suprimentos e na construção podem resultar em aumento de custos, escassez de mão de obra ou falta de equipamentos especializados. Existe a possibilidade, embora eu a considere pequena, de que algum tipo de mudança tecnológica relevante também leve a uma eficiência energética significativamente maior e, como resultado, a uma menor demanda por energia. Por fim, restrições de financiamento ao crescimento dos data centers, ainda que muito improváveis, poderiam resultar em uma desaceleração desse crescimento.

A energia nuclear voltou ao debate como uma fonte de baixa emissão. Como vocês estão avaliando as empresas exclusivamente nucleares (pure-play nuclear) e outras oportunidades no setor de concessionárias que têm exposição à geração nuclear?

Charles Hamieh: Junto com o gás, a geração nuclear é a única forma de geração tradicional de carga base, disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana, que está sendo construída atualmente. A energia nuclear também tem a vantagem adicional de ser uma fonte limpa. O ponto negativo é o prazo mais longo de construção, mas, se o modelo dos pequenos reatores modulares se provar viável, essa forma de geração deve se tornar muito mais presente na próxima década.

Quais são os principais temas de sustentabilidade que vocês acreditam que impulsionarão os retornos de infraestrutura em 2026 e nos anos seguintes?

Nick Langley: A descarbonização e a transição para energia limpa continuam a impulsionar investimentos em fontes renováveis em escala global, bem como a desativação de formas de geração baseadas em carbono, como o carvão. Embora parte do entusiasmo tenha, sem dúvida, diminuído no mercado, a maioria dos países, e muitas das maiores empresas, ainda mantém metas claras de descarbonização. Grande parte dos investimentos necessários para cumprir essas metas está relacionada às redes de postes e cabos, quase todos gerando retornos regulados. O reforço para resiliência climática e os investimentos em mitigação de riscos físicos aos ativos têm sido uma parte significativa dos planos de capex, especialmente em regiões como a Califórnia e a Costa do Golfo dos Estados Unidos. As concessionárias globais têm sido grandes beneficiárias dessas tendências.

A eficiência no uso de recursos e a infraestrutura que promove impactos positivos para a natureza também são prioridades importantes para as empresas hídricas do Reino Unido, à medida que implementam seu próximo plano quinquenal de capex. De uma perspectiva mais ampla, o déficit global de infraestrutura hídrica é significativo. Infraestruturas deterioradas, mudanças climáticas (secas e enchentes) e o aumento da demanda fazem com que muitas regiões precisem de grandes modernizações. Governos e órgãos reguladores vêm priorizando cada vez mais a qualidade da água, a confiabilidade, a resiliência e a eficiência, como vimos na recente revisão regulatória do Reino Unido. Isso recebeu apoio adicional com a revisão Cunliffe,2 que busca fortalecer a qualidade da água, o desempenho das empresas hídricas e a eficiência no futuro.

Como fatores macroeconômicos, como inflação, taxas de juros e dívida pública, estão influenciando a atratividade relativa da infraestrutura listada em comparação aos mercados privados?

Shane Hurst: Embora mais de 90% dos nossos portfólios possam repassar a inflação de forma direta ou indireta, os mercados listados, com frequência, reagem a surpresas nos dados de inflação. Com a inflação em 2025 amplamente contida, exceto em períodos como abril, quando houve preocupações de que tarifas pudessem ser inflacionárias, o impacto da inflação tem sido limitado. Em abril, quando o mercado recuou devido às expectativas de tarifas, muitos investidores em infraestrutura listada conseguiram aproveitar essa volatilidade para se posicionar em nomes de alta convicção que foram afetados apenas pelo beta, e não por mudanças fundamentais. Os investidores em infraestrutura não listada não puderam aproveitar essa oportunidade, devido à falta de liquidez e ao tempo necessário para executar uma operação.

A elevada carga de dívida pública levou a uma maior dependência do setor privado para iniciativas de crescimento, à medida que os gastos do governo se concentram em áreas como defesa. Isso tem resultado em melhorias na definição de localizações e nas aprovações de projetos, além de uma regulação mais construtiva em algumas regiões.

Quais setores ou regiões estão oferecendo oportunidades de investimento em infraestrutura mais atraentes?

Nick Langley: Temos grande exposição às concessionárias de eletricidade globais, dadas as tendências mencionadas acima. Os gasodutos norte-americanos também se mostram atraentes, com expansões impulsionadas pela necessidade de atender às novas usinas a gás, que estabilizam a rede e fornecem energia aos data centers, e pela demanda de exportação de gás natural liquefeito (LNG). A geração a gás de alta eficiência também deve ajudar a estabilizar as redes à medida que avançam na descarbonização. As fontes renováveis globais e as soluções de armazenamento de energia também vêm se beneficiando da necessidade de mais capacidade, impulsionada pela desativação de usinas a carvão e pelo crescimento da demanda dos data centers, e da necessidade de descarbonizar as redes. Por fim, a infraestrutura com cobrança direta ao usuário (modelo user-pays) na Europa parece atraente, pois, em muitos casos, aeroportos e rodovias pedagiadas estão operando no limite da capacidade. Isso está gerando uma necessidade maior de investimentos para ampliar a capacidade e criando o potencial para retornos atrativos.

Conclusão

Acreditamos que as perspectivas para a infraestrutura em 2026 seguem robustas, impulsionadas pela demanda crescente por energia e dados gerada pela IA, além da descarbonização e dos investimentos em redes para substituir infraestruturas obsoletas, fortalecer a resiliência e apoiar o onshoring e o realinhamento das cadeias de suprimentos. Concessionárias e ativos de infraestrutura sensíveis ao PIB, como aeroportos e rodovias pedagiadas, tendem a se beneficiar de contratos de longo prazo, apoio regulatório e do status de serviços essenciais, o que pode garantir estabilidade de resultados mesmo em cenários macroeconômicos voláteis. Embora riscos como limitações das redes, pressões políticas relacionadas à acessibilidade e desafios na cadeia de suprimentos persistam, acreditamos que as oportunidades são amplas nos mercados desenvolvidos, especialmente na América do Norte e na Europa. Em última análise, acreditamos que a infraestrutura se destaca como uma classe de ativos resiliente, oferecendo retornos atrativos e características defensivas em meio a condições econômicas em mudança e avanços tecnológicos acelerados.



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